terça-feira, 30 de abril, 2024
27.1 C
Natal
terça-feira, 30 de abril, 2024

De olhos fechados

- Publicidade -

[email protected]

Sou admirador de Diá. Por um motivo: ele conhece craque com sua visão além do alcance. Se o ABC o traz para coordenador técnico, com poderes acima do treinador, renasce a esperança alvinegra de um bom momento apesar do tempo correndo contra, na disputa da Série C do Campeonato Brasileiro.

Lembro muito bem quando a internet ainda era empírica e o ABC tomou-se de amores pelo meia Evandro do Londrina, depois cedido ao Taubaté(SP) e Diá ajudou o clube.
O talento não estava em Evandro, excelente, mas em Geraldo, um careca extraclasse que virou ídolo na estreia com ares de Ademir da Guia na vitória de 5×1 sobre o Juventus(SP). Corria o ano de 1998, Geraldo foi vendido ao Boavista e Evandro chegou em 1999 para ser tricampeão.
Gosto da franqueza de Diá. Não gosto do seu linguajar que chama o preconceito para perto dele. Dia é um exemplo da lei natalense de prestigiar forasteiro em detrimento de seus filhos. Câmara Cascudo foi um gênio porque único a não ser molestado em sua terra. Se eu contrataria Diá? De olhos fechados.

Não dá Passada a euforia do estadual, o América deve saber que, com esse time , não subirá da Série D para a C. Precisa contratar, sobretudo no ataque. Botar o olho no interior paulista.

Limites

No fim de Natal havia uma corrente a definir seus limites e a impor sua estatura geográfica. Pré-província, a cidade terminava, nas priscas poeiras do século passado, onde hoje circulam, frenéticos, carros e seus donos impávidos na avenida Salgado Filho, onde começava a estrada para Parnamirim, Trampolim da Vitória. A corrente é história e imposição do “fica no teu canto.”
A corrente barrava e liberava. Deixava entrar ou proibia de sair. E criou fama. Quem se destacava na capital ainda respirando ares da Segunda Guerra e dos hóspedes norte-americanos, sofria de inveja ou de cruel realismo. “Quero ver ser bom se passar da corrente”.
Quando o Juvenal Lamartine, estadinho para lá de adorável, se apertava para receber torcedores de ABC, América e Alecrim e alguém brilhava no golaço, no drible ou na habilidade em capim onde se costumou chamar depois de gramado, o célebre jornalista e presidente da Federação de Futebol, João Machado (o Estádio Machadão foi batizado em justa homenagem a ele), gritava das sociais”: “Esse só joga aqui, se passar da corrente, apanha na Paraíba”.
Até o ídolo Alberi, maior dentre os craques a desfilar em terras potiguares, é acusado por minoria de não ser o mesmo quando passava por onde tinha existido a corrente.
Remanescentes afirmam que o Negão Bola de Ouro do Campeonato Brasileiro de 1972, melhor em sua posição de meia-atacante num país tricampeão do mundo, era acometido de inexplicável timidez em campos tabajaras, pernambucanos ou cearenses.
Campina Grande era um terror. Os times locais que se mostravam nas tardes do JL, tomavam goleadas de cinco do Treze ou do Campinense na Paraíba. O Santa Cruz, de Givanildo, Luciano e Mirobaldo, de quem Alberi foi reserva antes de chegar a Natal, entregou as faixas do alvinegro campeão de 1970 e sapecou-lhe 4×0, diante das barbas que nunca foram vistas no rosto claro de Marinho Chagas, o camisa 6 dos humilhados.
O futebol do Rio Grande do Norte nem sempre foi de corrente. Passava dela e luzia. O América, em 1973, conquistou o Torneio Norte/Nordeste de melhor colocado no Campeonato Nacional, a Taça em homenagem a Almir Pernambuquinho, estrela pintada de fúria, assassinado naquele ano.
É que o América tinha um time. Um senhor time com Ubirajara; Emídio, Scala, Mário Braga(e ainda havia o espetacular Djalma) e Cosme; Afonsinho, Careca e João Daniel; Almir, Hélcio Jacaré e Gilson Porto com Sebastião Leônidas de técnico.
Primeiro representante potiguar na divisão de elite em 1972, o ABC quebrou correntes. Com um esquadrão liderado por três monarcas de meio-campo: Maranhão, Danilo Menezes e Alberi. Alberi que, em Natal, seus domínios, humilhou Zagallo, destruiu igual tanque de guerra por Dirceu Lopes, Jairzinho, Tostão, Leivinha, Samarone e aboletou-se da Bola de Prata. O ABC perdeu muito, mas perdeu com moral de vitória. A nata estava aqui.
No ano seguinte, sem nem vestígios de corrente, o ABC maravilhou Europa, África e Ásia e África em excursão de 102 dias com uma seleção regional de tão bom o time: Erivan; Sabará, Edson, Telino e Anchieta; Maranhão, Danilo Menezes e Alberi; Libânio, Jorge Demolidor e Moraes.
O ABC, entre outros feitos, empatou e botou na roda a seleção da Romênia(1×1), que enfrentara o Brasil de Pelé, Tostão, Rivelino, Jairzinho e Paulo César no Tri do México.
Quando éramos fortes, quebrávamos castelos. Correntes, pisávamos, destruíamos com as mãos. A difícil situação de ABC e América(apesar de campeão estadual) este ano , pífios com a sobremesa amarga da desmoralização, parece nos fazer ouvir o eco lendário do fantasma João Machado: “Esses são times ruins! Nunca passarão da corrente.”

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas