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Tropeço ou queda?

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Refletores – Valério Andrade
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Depois de um bom começo, aplaudido até por Veja, Babilônia começou a perder pontinhos no ranking do Ibope tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro. O que aconteceu depois da primeira semana ainda não justifica o alarme vermelho, mas, seguramente, justifica o alerta amarelo. Afinal, o que teria acontecido?

O fim do duelo
O drama precisa de conflitos e confrontos. E no impactante capítulo de estreia as duas coisas foram protagonizadas pelas personagens de Beatriz e Inês. Seguindo à risca o (sempre) eficiente modelo hollywoodiano, Gilberto Braga criou um clima de permanente tensão, valorizado ao máximo pelas presenças de Glória Pires e Adriana Esteves.

Com a ação retomada dez anos depois, aquele confronto cedeu lugar a outros núcleos da história. É claro que a novela não poderia girar todo o tempo em torno das duas personagens, pois esse tipo de situação e centralização da ação somente é possível no cinema – como se viu, por exemplo, no memorável duelo entre Bette Davis e Joan Crawford em “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”.

O que falta em Babilônia são núcleos que despertem curiosidade e sejam protagonizados por personagens marcantes, como ocorreu em “Império”.

O que está faltando
É justamente a ausência desses núcleos que está fazendo falta e provocando o gradual desinteresse do público. Quem, por exemplo, está se emocionando com o previsível romance entre a favelada Regina, que, contrariando o visual, se diz negra, e Vinícius, o advogado branco?

A relação do malandro (este situado na classe média) Luís Fernando com a esposa, Karen, continua se repetindo, sem, porém, sair do lugar. Não é dramática, nem é cômica, é apenas repetitiva. E, para piorar o que não é bom, Gabriel Braga Nunes está longe de ser o ator visto em outros países.

Também falta
É evidente que vilões carismáticos como o comendador José Alfredo não surgem todos os dias, e, além disso, já que o tripé central da trama é feminino (Beatriz, Inês e Regina), dificilmente poderia existir um papel daquela grandeza.

Isso, contudo, não impede que Babilônia abra espaço para o aparecimento e o crescimento de um ou mais personagens masculinos. Nos capítulos iniciais, esse papel parecia destinado ao novo marido de Beatriz, o milionário Evandro, que, inclusive, começou a crescer impulsionado pela boa atuação de Cassio Gabus Mendes.

Apesar da insistência em querer transformar o advogado Vinícius em herói, a verticalidade desse personagem esbarra num obstáculo: o fraco desempenho de Thiago Fragoso. Por enquanto, há duas vagas para o personagem masculino que está faltando: o prefeito corrupto, Aderbal, interpretado por Marcos Palmeira, e o cafetão de prostitutas de luxo, Murilo, vivido por Bruno Gagliasso.

Sete Vidas
A esperança do horário das seis voltar a ter uma boa novela, eu pelo menos acima da rotina, se desfez antes de Sete Vidas chegar ao final da semana de estreia. O que ficou evidente, e foi se agravando a cada novo capítulo, era que a história é pequena para o tamanho de uma novela.

Esse problema, que é gravíssimo, será letal se a trama central (encontro de irmãos, que se desconheciam, filhos de um pai desconhecido por todos) não for substancialmente ampliada.

A idéia de uma novela diferente das besteiras do tipo “Boogie Oogie” ou desprovida do realismo dramatizado de “Império”, em princípio poderia dar certo. Porém, ao horizontalizar uma história e os personagens, é grande o risco de se cair na circular monotonia que empurrou “Em Família” para o abismo.

Personagens & intérpretes
É mais difícil do que se imagina, como ficamos sabendo através dos filmes, suscitar especial interesse por personagens comuns, tipo gente como a gente. Além, e acima disso, existe outro grande obstáculo: corporificação dos personagens através dos intérpretes.

E, sob esse aspecto, Sete Vidas cometeu graves equívocos na escalação do elenco. O mais visível é o de haver promovido Isabelle Drumond e Jayme Matarazzo a protagonistas. Outro, menos ostensivo, advém da insistência da Globo em querer transformar Domingos Montagner em super-galã. Em “Salve Jorge”, foi a jovem bela Cléo Pires quem esteve apaixonada, agora chegou à vez da charmosa Deborah Bloch, cuja paixão permanece mesmo depois da (suposta) morte do amante e do casamento.

Além desses equívocos comprometedores, há quem esteja atuando acima do tom, como Malu Galli, que parece ter acrescentado uma agressividade pessoal à imutável chatice de Irene.

Pretensão visual
Apesar de se achar o melhor entre os diretores de novelas, Jayme Monjardim é o principal responsável pela monotonia de todas as cenas filmadas no Artico, na interminável viagem, sem rumo, sem destino, sem explicação, filmada dentro do barco do solitário navegador Miguel.

As cenas são bonitas, foram bem filmadas, também bem feita foi a tempestade, mas, na tela, tudo isso, que poderia ter sido resumido e apresentado em um único capítulo, resultou numa contemplação tediosa – e que seria mais adequada ao programa Globo Natureza.

Galeria
Vale lembrar, antes que caia no esquecimento, um personagem que, dando a volta por cima, marcou a passagem por “Império” – foi o Téo Pereira, que, sozinho, segurou um núcleo humorístico. Entrou em cena sob suspeita, por causa da afetadíssima interpretação caricatural, mas, pouco a pouco, foi se impondo e crescendo.

Numa composição meticulosa, em que se destacavam o gestual e o timbre de voz, sem esquecer os olhares, Paulo Betti revelou um lado inesperado de sua versatilidade em papel inédito em sua carreira. Na maioria das vezes segurando a cena sozinho, entronizou Téo na galeria dos gays inesquecíveis.

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