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Síria mergulha em espiral de sangue

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André Lachini
Agência Estado

São Paulo (AE) – O conflito civil na Síria entrou em um beco sem saída e parecem remotas as perspectivas que levem a uma solução política negociada entre o presidente Bashar Assad e a oposição síria. Esse quadro somado à incapacidade bélica da oposição em derrubar Assad, ao menos no curto prazo, favorece a persistência do impasse sangrento e a população civil pagará um preço alto, alertam especialistas em relações internacionais entrevistados pela Agência Estado. Até o final de março, quando a revolta contra Assad completou um ano, mais de nove mil pessoas foram mortas na Síria, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Esse número inclui mortes causadas pela implacável repressão lançada pelo governo, pelos confrontos entre soldados desertores e a serviço das tropas do governo e, mais recentemente, por atentados a bomba nas cidades. A ONU estima que pelo menos 500 dos mortos eram crianças, e que um número maior de crianças tenham sido torturadas, estupradas e mutiladas.

Analistas em relações internacionais não acreditam que a convenção Amigos do Povo Sírio, que aconteceu em 31 de março e 1º de abril em Istambul, na Turquia, mude o cenário violento. No encontro, diplomatas da Arábia Saudita, do Catar e dos Estados Unidos prometeram milhões de dólares para os insurgentes sírios comprarem armas e equipamentos de comunicações para enfrentar o exército regular de Assad, bem como salários aos soldados do Exército Livre da Síria (ELS). “Com o financiamento, a guerra civil pode mudar de intensidade, de um conflito de baixa para média escala”, diz Heni Ozi Cukier, professor de Resolução de Conflitos Internacionais na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.

“A população síria foi abandonada pela comunidade internacional. O recente acordo mediado por Kofi Annan é mais uma tentativa de Assad de ganhar tempo. Com isso, o conflito sírio se prolongará. A infraestrutura do país será destruída”, prevê o professor de relações internacionais Murched Taha, do Instituto de Cultura Árabe, em São Paulo. Taha diz que, no fundo, a comunidade internacional aceita o governo da família Assad na Síria porque ele é previsível e não tentará nenhuma ação militar contra Israel. “Assad não desafia a ocupação de Israel sobre as Colinas de Golã, um território sírio que Israel ocupou a partir da Guerra dos Seis Dias em 1967”, explica. Em 1970, o pai do atual presidente sírio, Hafez Assad, chegou ao poder na Síria através de um golpe de Estado. Desde então, com a breve exceção da Guerra do Yom Kippur, em 1973, a Síria não tentou nenhuma ação militar para retomar o Golã, sua antiga província de Quneitra.

“Não interessa ao Ocidente que esse governo caia imediatamente. Parece paradoxal: o governo sírio nunca atacou Israel para retomar o Golã e, por isso, pode continuar”, diz Taha. Ele afirma que os interesses em jogo na Síria são muito diferentes do que estava em jogo na Líbia no ano passado, quando a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) deu forte apoio aos rebeldes que derrubaram Muamar Kadafi.

“O conflito sírio pode durar muito? Pode. A verdade é que ninguém está preocupado se 40 mil ou 100 mil sírios serão mortos”, afirma Taha. Segundo ele, a situação de impasse continuará até que as deserções aumentem a um ponto em que o exército sírio, que tem 300 mil soldados, comece a se desintegrar, o que poderá levar alguns anos ou não acontecer.

População busca segurança em outros países

Para o professor Cukier, da ESPM, o conflito sírio persistirá e o regime de Damasco continuará a contar com apoio do Irã e da Rússia. “A Rússia não vai ceder. A Síria é o que sobrou para ela no Oriente Médio. Podem morrer mais 50 mil sírios e ninguém vai fazer nada”, afirma Cukier. Segundo ele, o único país que poderia intervir é a Turquia, mas ainda não existe a vontade efetiva da Turquia em intervir. “A Síria ameaçou armar os curdos se a Turquia intervier, por isso Ancara toma bastante cuidado nessa questão”, explica.

A Turquia já abriga cerca de 22 mil refugiados sírios na sua província sulista de Hatay, que faz fronteira com Idlib, no norte da Síria, informou o governo turco em 5 de abril. No começo de março, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) disse que o número de refugiados sírios registrados ultrapassou 30 mil. Embora a maioria esteja na Turquia, milhares fugiram para o Líbano e também para a Jordânia, próxima à província síria de Deraa, onde começou a revolta em 15 de março de 2011.

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