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Uma saga potiguar

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Em maio de 1982 eu estava começando o curso de jornalismo na UFRN, e um estágio como repórter na antiga Rádio Trairi, quando Assis de Paula (já falecido) me mandou fazer a cobertura de um assalto: o Roubo dos 94 milhões da Emergência. Era assim mesmo, com maiúsculas, que o caso – considerado um golpe audacioso, apesar de fácil execução – aparecia nos jornais. 

Entre as cidades de Caraúbas e Olho D’Agua dos Borges, uma Brasília dirigida por um funcionário do Banco Econômico e um vigilante foi interceptada por um grupo armado. Os dois fugiram e o bando ficou com os malotes onde estavam 94 milhões de cruzeiros do pagamento de trabalhadores rurais inscritos nas frentes de emergência contra a seca, mantidas pelo governo federal. A polícia civill investigou e não descobriu nada. Como o dinheiro era da União, a Polícia Federal entrou na investigação. Em dezembro, fez as primeiras prisões: Antonio Benevides Carneiro, o Toinho, que entregou Siqueira (gerente da agência do Econômico), que entregou outros integrantes da quadrilha, todos da família Benevides Carneiro.

A caçada cinematográfica aos Carneiro, que reagiram à bala e mataram um agente federal ao serem presos no interior do Piauí; o assassinato de um menino de quatro anos – filho de um cúmplice carioca do bando – e a prisão por quase dois anos de um inocente deram os ingredientes de crueldade e erro judicial que faltavam para fazer do “Caso dos 94 milhões” o mais espetacular, violento e controvertido episódio da crônica policial potiguar. Para mim, foi uma espécie de “rito de iniciação” ao jornalismo. Para o público, foi como um “prelúdio”, para uma história de crimes assombrosos. A enfâse dada pela mídia, nos anos seguintes, aos fatos violentos relacionados aos Benevides Carneiro, envolvida em uma rixa com os Fernandes, fizeram com que essa família fosse vista quase como um anátema no Oeste potiguar.

Para José Viana Ramalho, o Dudé, compositor popular, encarcerado durante 20 meses com base em uma ordem judicial de prisão em nome de outra pessoa, o “Caso dos 94 milhões” foi um “inferno na terra”. O episódio é um dos capítulos no livro A Saga Benevides Carneiro (237 páginas. R$ 25,00) que Dudé lançou no finalzinho do ano passado, às próprias custas. Sempre um otimista, um entusiasta da arte e da vida que não se deixa abater pelas dificuldades, Dudé resolveu contar a trajetória dos Benevides Carneiro não para desfiar mágoas e ressentimentos. Escreveu para fazer História e mostrar fatos. Como a acusação falsa que levou Valdetário Benevides, um pacato mecânico, a se transformar no líder de uma quadrilha de assaltantes. Como às origens comuns dos Carneiro, dos Benevides e dos Fernandes, pioneiros da colonização do Oeste potiguar no século XVIII. Dudé rastreia, em velhos registros paroquiais, os casamentos, nascimentos e mortes nas várias geraçõs de descendentes, constatando que entre as famílias que hoje são rivais há um tronco comum. Surpreendente? Nem tanto. Rixas familiares são sempre mais fortes e irracionais quando esses laços fazem do parente próximo “um traídor” do sangue. 

E assim como não é a história da injustiça sofrida, o livro de Dudé também vai além das rixas familiares. Conta a verdade – o que pode parecer inconveniente e perigoso, para alguns – mas a conta por inteira, mostrando que a família Benevides Carneiro tem outros personagens tão ou mais interessantes e surpreendentes: o capitão Francisco Fernandes Carneiro, comboieiro pobre que chegou a Intendente de Caraúbas; Raimundo Pedro Benevides, o “médico dos pobres”; Maria Laly Carneiro, médica e condessa na França… O livro está há quatro semanas na lista dos mais vendidos da Siciliano. Vale a pena e, se depois  você quiser falar com Dudé, ligue 8835 0871 ou escreva para dudeviana@yahoo. com.br.

Diálogo religioso

Em meio a desinformação e indiferença quase generalizada sobre o que não é tido como “nossa cultura”, a MK Editora lança um projeto audacioso e oportuno: uma série de quatro livros sobre o diálogo religioso. Encomendados a teológos diferentes, ligados a corrente evangêlica do Cristianismo, os textos refletem uma visão sem preconceitos sobre o Islamismo (160 páginas. R$ 15.90), o Budismo (R$ 11,90), as Religiões Afro (R$ 19,90) e o Hinduísmo (R$ 12,90).

Contos policiais

Tailor Diniz valeu-se da experiência como jornalista, escritor e roteirista de cinema e faz um experimento surpreendente na literatura policial. Nas “sete histórias para todas as horas, principalmente as más” que constituem Transversais do tempo (128 páginas, R$ 25,00. Bertrnad Brasil), ele subverte o fluxo narrativo sem levar o leitor a labirintos estilísticos desnecessários. O que vale e permanece, na leitura de cada um dos contos, é uma leve e divertida sensação de mistério.

Sobre amizade

Para as leitoras dos romances tipo Nora Roberts há uma novidade nas livrarias: As Quatro Graças (462 páginas. R$ 49,00. Bertrand Brasil). Não se trata de um novo título de Nora, mas do romance de estréia (no Brasil) de Patricia Gaffrey, retratando as relações de amizades entre quatro mulheres que, apesar de diferentes, se mantêm unidas durante vários anos. A autora já faz sucesso nos EUA desde a década de 80 e chamou a atenção de Nora Roberts com esse livro.

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