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Discos de vinil voltam à moda

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Silke Wünsch
e Marco Sanchez
Agência Deutsche Welle

Já na entrada pode-se ver um grande cartaz com a placa “compra e venda de discos”. De uma porta aberta, ouvem-se vozes e, é claro, música. Dentro da loja, cercado por discos, está Uwe, o proprietário; Philip, seu funcionário e Bruno, um cliente. Bem-vindo a Nunk Musik, um sebo num bairro cool de Colônia.
Popularidade do vinil vem crescendo com o aquecimento do mercado e a mobilização de DJs, lojistas e produtores de festas
Naturalmente a conversa gira em torno de música. “Jazz não dá”, diz Phillip antes de desaparecer para atender novos clientes que acabaram de entrar. Bruno não precisa de ajuda. Cliente regular, ele conhece a loja como a palma da mão. Ele tira um disco do toca-discos e o substitui por outro: “Este é um sete polegadas, lançado pela gravadora Brunswick.” Ele coloca para tocar. Primeiro escutam-se estalos antes de serem ouvidos os primeiros acordes de uma big band tocando um swing. “Sly Oliver e sua orquestra acompanhados por Louis Armstrong cantando um dos seus maiores sucessos C’est si bon!”,diz o feliz cliente.

Discos são uma paixão

Bruno (49) é um apaixonado por discos de vinil. Um freak como ele próprio se define. Sua coleção conta com mais de 5 mil LPs – Jazz, trilhas sonoras e música clássica de diferentes eras. Mas por que ele não tem essa coleção tão importante em CD ou mp3? “Não há nada como a sensação tátil do LP. Por exemplo, a trilha sonora de Spartacus é como um livro. A capa com Kirk Douglas em technicolor é como uma obra de arte. Você não tem esse efeito em um CD.”

O design da capa é um ponto importante. Outra vantagem do vinil em relação ao CD é o tempo que os dados ficam registrados. Quando um LP é bem cuidado ele pode durar para sempre. Para os aficionados em vinil, também há uma grande diferença no som. O LP tem um som cheio, já o CD soa frio.

Preciosidades

Hoje pessoas de todas as idades vasculham sebos, mercados de pulgas e a internet atrás de preciosidades em vinil. O proprietário Uwe consegue avaliar os discos pela música, gravadora e diferentes edições. Ela sabe também reconhecer quando se depara com uma coleção de discos realmente completa e valiosa. Quando um cliente vem oferecer sua coleção completa de jazz, por exemplo, Uwe sabe exatamente quais são os pontos fortes e o que está faltando. Na hora ele percebe se as preciosidades não estão mais na coleção. “Sem os discos raros, as coleções não valem muito”, completou.

Ele segura um disco de Oscar Peterson da MPS, a primeira gravadora de jazz da Alemanha, famosa por suas gravações de alta qualidade. “Quando encontramos um disco da MPS dos anos 60 ou 70 o preço é de até 20 euros”. O valor de um LP usado varia de acordo com o estado de conservação do disco e também da capa. Em seguida Uwe pega outro clássico do jazz: “Aqui está a gravação de um show que Keith Jarrett fez aqui em Colônia. A primeira edição tinha uma capa texturizada. Essa é uma edição dupla com a capa comum. Vai custar 15 euros, porque o disco está em ótimas condições.”

Colecionadores

Uwe dificilmente pode descrever seus clientes. Sua loja é frequentada por DJs de 20 anos de idade até amantes endinheirados de jazz. Tem cliente que vem apenas olhar e não compra nada. Uns vêm se vangloriar de suas coleções. “Faz parte da conversa da loja, e falamos com prazer”, disse Uwe. Outros vêm procurar a pechincha de sua vida. “Esse são realmente obcecados, como colecionadores de selos. Os discos vão diretos para vitrines. Para colecionadores profissionais, eles são como um investimento. Quando a crise financeira começou, alguns colecionadores, que não perderam todo o dinheiro, vieram como loucos comprar discos.”

Informações sobre o mercado do disco podem ser encontradas na internet. Os valores podem variar de acordo com o interesse e a procura. Não existe um valor máximo. Um disco raro pode custar 500 euros, ou também alguns milhares. Pelo que se sabe, o maior preço já pago por um disco foi por uma edição tida como perdida de um disco do Velvet Underground & Nico. A versão original do clássico cult de 1966 foi vendida por 155.401 dólares no site de leilões e-bay.

Clube do Bolinha

A Nunk Musik em Colônia tem se tornado cada vez mais popular. Uwe e Phillip sempre recebem os clientes para auxiliar, conversar, beber uma cerveja ou fumar um cigarro. Dois jovens desaparecem entre os discos de música eletrônica da loja. Eles são DJs e procuram discos para tocar em festas e clubes. Uwe os observa com benevolência. “Alguns jovens nem sabem que um disco tem dois lados. Eles olham os discos como algo que nunca viram antes.” Esses são os clientes favoritos de Uwe. Ele adora poder encantar os jovens com seus discos de vinil. Mulheres não são geralmente vistas na loja.

Mania também no Brasil

No Brasil, vinil também vem ganhando popularidade. Em São Paulo a galeria Nova Barão no centro da cidade é o reduto dos colecionadores e fãs de vinil. No ultimo ano a galeria, antes dominada por lojas de cosméticos, viveu um boom de novas lojas. Hoje são 14 lojas que vendem majoritariamente vinil. Segundo Márcio Custódio, da Locomotiva discos, a popularidade do vinil na cidade vem crescendo com o aquecimento do mercado e a mobilização de DJs, lojistas e produtores de festas para popularizar e celebrar novamente o formato. “Apesar de a grande mídia ignorar o disco, estamos vivendo uma ‘vinilmania’”, empolga-se o proprietário que acredita que o vinil é a maneira mais charmosa de se ouvir música. “Nosso público ainda não está muito definido, mas vejo cada vez mais adolescentes descolados, que nunca compraram sequer um CD, se interessarem cada vez mais por discos em vinil”, completa.

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