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Machado de Assis e o Senado

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Ivan Maciel de Andrade
Advogado 

Nas páginas memorialísticas sobre “O velho Senado” (artigo publicado na “Revista Brasileira”, em 1898, e depois incluído no livro “Páginas recolhidas”, de 1899), Machado de Assis esclarece que foi no ano de 1860 que entrou para a imprensa. Relembra, então, uma conversa que teve com Quintino Bocaiúva sobre temas políticos. Diz Machado haver percebido que Bocaiúva pretendia conhecer as suas “opiniões” e admite que “provavelmente não as teria nem fixas nem determinadas”. No entanto, Lúcia Miguel Pereira o contradiz: “Traía-o a memória ou se arrependia de as ter tido, nesse momento, bem fixas e determinadas.” O certo é que Bocaiúva lhe ofereceu um lugar na redação do “Diário do Rio de Janeiro”, que era dirigido por Saldanha Marinho e tinha o próprio Quintino como principal redator.

Machado recorda que foi para o Senado fazer a “resenha dos debates” representando o “Diário do Rio”. Lá conviveu com Bernardo Guimarães, do “Jornal do Comércio”, e Pedro Luís, do “Correio Mercantil”. Segundo Alfredo Pujol, Machado começou fazendo “a cozinha do jornal”. Mas Lúcia Miguel Pereira faz constatações bem diferentes: “Jornal admirável esse ‘Diário do Rio’, bem impresso, bem redigido, com ótima colaboração. Não espanta que fosse bem redigido: os anúncios, as pequenas notícias, os fatos diversos eram escritos ou corrigidos por Machado de Assis”, que já se distinguia nesse tempo pelo estilo “nítido e limpo”. Eis um dado bastante significativo: Machado de Assis, “nesses primeiros anos, foi um ótimo jornalista, e não apenas um cronista.” E jornalista, ele foi a vida inteira. 

A prova de que Machado valorizou o artigo sobre “O velho Senado” é que o incluiu no livro “Páginas recolhidas”, atribuindo-lhe, assim, caráter permanente. Esse livro foi publicado pouco antes do “Dom Casmurro”, que é de 1900: contém contos, crônicas, um discurso (em homenagem a José de Alencar) e até uma peça de teatro – em suma, uma verdadeira “salada”, como reconhece o próprio autor, citando Montaigne. Mas, como informa Daniel Piza, “curiosamente, ‘Páginas recolhidas’ é o livro de Machado com melhor acolhida entre os leitores da época”. Em “O velho Senado” Machado recorda sessões que cobriu na qualidade de repórter. E o faz de forma poética, com superior beleza literária.

Assinala que “os senadores compareciam regularmente ao trabalho” e, por isso, “era raro não haver sessão por falta de quórum”. E menciona um comportamento hoje inconcebível: “Uma particularidade do tempo é que muitos vinham em carruagem própria, como Zacarias, Monte Alegre, Abrantes, Caxias e outros, começando pelo mais velho que era o Marquês de Itanhaém”. Machado explica que, “para avaliar bem a impressão diante daqueles homens que (ele) via ali juntos”, era preciso considerar o seguinte: “Tinham feito ou visto fazer a história e (ele) era um adolescente espantado e curioso”. E completa: “Achava-lhes uma feição particular, um pouco de homens, outro pouco de instituição”. Comenta que através deles começou a aprender “a parte do presente que há no passado, e vice-versa”. A seguir, faz nova observação inaplicável ao Senado de nossos dias: “Nenhum tumulto nas sessões. A atenção era grande e constante”. Machado descreve uma instituição gloriosa.

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