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Drama e amor sob refletores

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Tádzio França
Repórter

Apesar de as cortinas terem se fechado indeterminadamente para alguns palcos em Natal, o teatro – a arte – não para. Novos espetáculos estrearam, temporadas estão seguindo, e algumas encenações nem precisam de teto para acontecer. O improviso faz parte das artes cênicas. O Grupo Carmim é o destaque do fim de semana com a estreia de “Por que Paris?”, que seguirá até domingo, às 20h, na Casa da Ribeira. A nova peça lança os refletores sobre a difícil relação da escritora indochino-francesa Marguerite Duras com sua mãe, entremeando ficção e realidade – como nos livros da autora. A direção é de Henrique Fontes.
Espetáculo consumiu um ano e meio de pesquisa sobre a vida e obra da autora de “O Amante”
As atrizes Quitéria Kelly e Adelvane Néia vivem, respectivamente, Marguerite e sua mãe, Marie Legrand. Mas também vivem elas mesmas, em certo momento da peça. “Ao pesquisarmos a vida e a obra de Marguerite, vimos que a mistura da ficção com a biografia da própria escritora era uma constante em sua obra. A relação com a mãe, que sempre foi complicada, está quase sempre abordada em seus livros”, conta Henrique Fontes. A trajetória da escritora se assemelha a das duas atrizes brasileiras em muitos aspectos.

Registro documental,  experiências biográficas e ficção convivem durante a encenação. A relação de Marguerite com a mãe serve de base para que Quitéria e Adelvane também falem sobre suas próprias mães. Por fim, no terceiro bloco do espetáculo, a escolha de Paris é discutida. “Paris é para Marguerite um lugar de salvação. Um lugar que historicamente acolhe intelectuais e artistas. Mas essa é uma Paris de sonho, e a realidade é bem mais dura”, explica Henrique. É nessa parte que questões nacionais e mundiais são discutidas, convergindo sobre preconceito, cegueira ideológica, violência, intolerância, superficialidade. Afinal, por que Paris? Uma dúvida compartilhada com o público.

Henrique Fontes também comenta que o uso de várias linguagens experimentadas durante a peça. “Utilizamos o elemento documental, o épico, o dramático e, principalmente, o melodramático”, diz. A parte audiovisual foi introduzida pelo cineasta Pedro Fiuza, que procurou fazer com que a encenação também dialogue com a obra cinematográfica de Duras. “O audiovisual deve interagir com a cena, sem virar cenário ilustrativo ou meramente didático. Ele também cria a história e amplia as questões levantadas”, explicou.

As questões levantadas em “Por que Paris?” vão além da vida de Marguerite Duras e também servirão como comentários para o cotidiano. Até mesmo para o momento difícil por qual passa o teatro em Natal. “Tem um recado pra isso na peça. É muito grave o que está acontecendo agora, mas, infelizmente, não me surpreende. É algo que já acompanhamos há anos, atingindo os artistas, até chegar agora ao espaço físico do teatro. Enquanto o poder público pensar na arte apenas como evento, o cenário não vai mudar. Quando surgirem políticas públicas para fomentar e dar prosseguimento ao meio artístico, aí sim teremos um caminho”, analisa.

E a pergunta muda: “Por que teatro?”. Segundo Henrique, uma resposta pode estar entre o público, que proporcionou 16 mil reais para a realização da peça, através de uma campanha de financiamento realizada pelo grupo. “Isso pode ser um recado para os nossos gestores públicos. A colaboração foi espontânea e nos deixou empolgados. As pessoas querem sim, teatro de qualidade. E independente de qualquer coisa, vamos continuar fazendo”, conclui.

Serviço:
Por que Paris?
De sexta a domingo, às 20h, na Casa da Ribeira.
Entrada: R$30 (inteira) e R$15 (estudante).

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