“No mundo pós-moderno, tudo que há de constante são as mudanças”, e essa é uma regra sem exceção, inclusive no universo do vinho. Há bem pouco tempo palheta cromática dos vinhos resumia-se a brancos, rosados e tintos, havendo para cada um desses estilos um dégradê (gradiente de cor) que se intensificava ou suavizava consoante à casta utilizada e as técnicas de vinificação e maturação empregadas. 
Os brancos, em especial, chegavam à cor laranja apenas quando oxidados pelo tempo, ou quando mal vinificados, devido à degradação das flavonas. Mas essa concepção mudou com a chegada dos vinhos laranja (Orange Wines).
Vinhos brancos com alma de tintos, que devido às extrativas técnicas de vinificação, nascem com a cor que indica morte aos brancos convencionais. Trata-se de um novo conceito cujo atrativo, no que tange o apreciador comum, sustenta-se mais pela novidade do que a qualidade. Sim, porque estes vinhos em nada se comparam aos brancos de cores esverdeadas e palha, leves, frescos e frutados que habitam o imaginário do apreciador. O vinho laranja é o conceito trans da categoria brancos. Vinhos com longa maceração, fermentação em contato com as cascas, algumas vezes em ânforas de barro, ou em barricas de carvalho e com longa maturação pós-fermentativa. O vinho laranja é a antítese do vinho rosé, que nasce de uvas tintas e tem semelhança com os brancos. Na exata contramão do processo, o vinho laranja nasce de uvas brancas, mas tem semelhança com os tintos, dado que sua elaboração é conduzida como tal. Neles há algo de pitoresco porque seus criadores em geral se utilizam de técnicas ancestrais, num retorno às raízes, com resgate de antigas práticas vitivinícolas.
Estes vinhos ganharam popularidade na Itália e na Eslovênia, mas atualmente é possível encontrar vinhos laranja em toda Europa e no novo mundo, com surpreendente qualidade. São vinhos cuja cor varia entre dourado, âmbar e laranja, que mesclam acidez e corpo, fruta e mineralidade, textura e tanino.
Os melhores combinam delicadeza e estrutura, com aromas e sabores que sugerem damasco, casca de laranja, maçã glaceada e frutas secas, com muita suculência e persistência de boca. Um dado importante é que estes vinhos, por serem fermentados com as cascas, têm uma grande quantidade de polifenóis, diferentemente dos brancos convencionais. Se você ainda não provou um vinho laranja, precisa fazê-lo, e não ressinta caso você não goste do estilo, eles não são fáceis, e fazem parte de um gosto que ainda precisa ser adquirido.
Josko Gravner, o “papa” dos vinhos laranjas
Josko Gravner, um homem devotado ao terroir desde os anos 90, que adotou práticas ancestrais de vinificação, abrindo mão da vida de produtor moderno, previsível e premiado da Itália, para se lançar no desafio de criar caldos raros em ânforas de terracota (quevri), oriundas do Cáucaso, que maceram por 7 meses em contato com as cascas e 7 anos em madeira. Com profundo respeito pelo terroir do Collio (Friuli Venezia Giulia), Gravner resume tudo numa frase: “Faço vinho para mim, o que sobra eu vendo” ilustrando com isso que quem quer água pura deve ir à nascente, não à foz do rio, numa rica alusão ao seu ato verdadeiro de buscar inspiração na origem da vitivinicultura, na Geórgia de 5.000 anos atrás.
Vinho da Semana
Não poderia ser outro senão o vinho laranja de Josko Gravner, que curiosamente não gosta do termo “vinho laranja” por causa do sentido pejorativo interpretado nos vinhos brancos convencionais. Gravner Ribolla Gialla 2006 é um vinho 100% varietal, fermentado em ânforas de terracota sem controle de temperatura. Macera por 7 meses em ânfora e matura por 3 anos em botti de carvalho esloveno. Um vinho intenso, rico e corpulento, que necessita de longa decantação para se mostrar. Importado pela Decanter em Natal é uma exclusividade Vinhedos.
