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Agosto das letras: Flipipa

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Quinta-feira agora, dia 5, começa a programação do Festival Literário da Praia de Pipa. Estica até   sábado, 8. Não somente literatura. Tem música, teatro, dança, contação de histórias, folguedos populares e, se quiser,  uma pitada de politica, tempero essencial na cultura brasileira e até porque  Antônio Conselheiro e Carlos Lamarca são mote de uma das Tendas dos Autores. Junte tudo isso com palestras e debates, lançamento de livros, conversas pelos terreiros, esticadas pelos bares,  a noite defronte do mar.  Agosto começa com fartura e Pipa é uma festa. Flipipa.

Do pessoal que vem de fora, escritores,  músicos, atores, compositores, poetas, a delegação está  bem constituída. Nomes como a da escritora Marina Colasanti, o poeta e compositor Antônio Cícero, o escritor Marcelino Freire, o compositor e cantor Jorge Mautner, o poeta, violonista e cantor Jards Macalé, o ator  Paulo Betti,  o antropólogo e historiador Antônio Risério, o ensaísta e professor de Literatura Eduardo Jardim, biógrafo de Mário de Andrade. Lembrando que o autor de Macunaíma é um dos homenageados da Fliipipa e que a sua história e sua obra  têm afinidades com o Rio Grande do Norte.  Este ano celebram-se os 70 anos da morte do  escritor paulista.

Da prata de casa vou me lembrando  e constatando que tem muita gente boa  não somente nas tendas dos autores, mas também nos espetáculos de música, das apresentações de danças, de  teatro (“Alegria, Alegria”), nos folguedos populares: Carlos Zens, Danilo Guanais, Aldo Lopes, Ticiano Duarte, Willington Germano, Lívio Oliveira, Vicente Serejo, Geraldo Maia do Nascimento,  Carlos Fialho, Abimael Silva, Cassiano Arruda, Tácito Costa, Wani Pereira, Demétrio Diniz, a cantora Kristal, por aí. 

São muitas atrações, além das tendas dos autores com suas palestras e debates.  A programação começa logo cedo, coisa das 8 horas, atraindo a garotada das escolas dos municípios vizinhos. Destaque para a participação do SESC com o seu projeto “Ação  de Incentivo a Leitura”. Final da tarde abre-se a tenda da Editora Jovens Escribas para os “papos literários” e lançamento de livros.  No mesmo pátio, a tenda da editora Sebo Vermelho lançando  e vendendo livros, mais   papos.  Muita  coisa para se ver, se ouvir e usufruir. Até mestre Gaspar  deixa por uns dias a Cova da Onça para pegar o rumo da Pipa, onde gostava de caminhar com o grande Helio Galvão (“Cartas da Praia”) no tempo que todo aquele agitado  mundo mundano de hoje era apenas uma  simples aldeia de pescadores, aqui e acolá aparecendo um veranista de Goianinha.

Fruta-pão de Pipa

Abro a página 59  de Cartas da Praia,  livro que  Helio Galvão publicou em 1968 pela Edições do Val, do Rio de Janeiro. Reunia suas crônicas, em forma de carta,  publicadas na Tribuna do Norte. A carta de n. 22,  estampada na página 59 , datada de 4 de abril de 1967, começa assim:

“Sr. Redator:
Dei hoje um passeio a Pipa, topônimo já antigo, referido por Gabriel Soares de Souza. O Grande Ponto da Pipa é uma esquina sombreada por alguns pés de fruta-pão e coqueiros. Como não tem residências, dando para o fundo de quintais do pessoal granfino que vem aqui todos os anos, a gente se sente no chão, um chão limpo, de areia branca. Quem não quer ficar sentado, pode-se deitar-se. Outros ficam acocorados e nessa posição permanecem horas a fio.

Enquanto minha mulher ia conversar com sua comadre Joaninha, esposa do vereador José Hemetério, fico aqui com os pescadores. Domina a conversa João Pará, um sujeito vivo, rosalgar, pescador inteligente e experimentado, dono de barco de que é mestre.”
Me emociono toda vez que releio estas “Cartas” do doutor Helio Galvão, o jurista, historiador, etnógrafo, professor,  o escritor. Mais ainda pela sua generosidade na dedicatória, a letra firme do amigo: “Woden: Estas ‘Cartas da Praia’ devem muito a você. É o momento de agradecer. Helio Galvão. 2.2.68”.

Na apresentação do livro, o sociólogo e antropólogo alagoano Manoel Diégues Júnior escreveu: “Estas “Cartas da Praia” são um primor”. Em primeiro lugar, pela redação: a clareza de dizer as coisas, a naturalidade de expor, a facilidade de exprimir o que viu, capaz de chegar ao entendimento de todos os leitores. Depois, pelas informações: trata-se, na verdade, de uma riqueza sobre a vida praiana, hábitos, costumes, o quotidiano, as conversas, tudo enfim que a etnografia conserva, mas nem sempre se registra.”

Mário de Andrade
Um dos palestrantes da Flipipa é o escritor  e professor do Departamento de Filosofia da PUC (Rio) Eduardo Jardim, biógrafo de Mário de Andrade. O tema de sua palestra (ás 20 horas do dia 6, quinta-feira)  é “Macunaíma e Chico Antônio na biografia de Mário de Andrade”. Eduardo Jardim acaba de publicar Eu sou trezentos Mário de Andrade – Vida e Obra, que foi lançado na Festa Literária Internacional de Paraty”, realizada em junho.

O livro tem muitas anotações sobre a passagem de Mário de Andrade pelo Rio Grande do Norte,  final dos anos 1928 começo de 1929, hóspede de Luís da Câmara Cascudo, um total de  43 dias divididos em  Natal, Engenho Bom Jardim, que fica em  Goianinha (na época Pipa pertencia ao seu território) e  também pelos sertões do Seridó e do Oeste.

Em seu livro, citando  “O Turista Aprendiz” de Mário de Andrade, Eduardo Jardim vai anotando a viagem de Mário pelo Nordeste: “… Mário viajou sozinho. Pôde encontrar os amigos já conhecidos, como Câmara Cascudo, em Natal, e foi apresentando a Jorge de Lima e José Lins do Rêgo, em Maceió (…) A Antônio Bento, no Rio Grande do Norte, e a José Américo de Almeida, na Paraíba (…) Em Natal, fechou o corpo em um terreiro de candomblé”.

Mais adiante se referindo ao acervo de arte popular de Mário de Andrade e ao seu livro “Na pancada do ganzá”:
“Fazem parte desse acervo os cocos do cantador Chico Antônio, que Mário de Andrade conheceu no Rio Grande do Norte e que tanto o impressionou. Também a referência ao ganzá no título do livro tem a ver com o cantador, pois era esse seu instrumento de acompanhamento, o qual lhe foi ofertado, ao final da visita, ao novo amigo doutor”.
Eduardo Jardim vai dividir com Vicente Serejo a mesa sobre Mário de Andrade.

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