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Na batida do pilão

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Woden Madruga [ [email protected] ]

O sábado de hoje, último dia de maio, sugere uma volta pela Cidade Alta, mesmo que você não encontre lugar nenhum para estacionar o carro. De ônibus é arriscado não chegar ao destino. Vá de táxi, podendo descer na Deodoro e seguir a pé no rumo da João Pessoa ou, então, pegar mesmo a Rio Branco. Aconselho evitar as praças André de Albuquerque e Sete de Setembro onde impera o estacionamento em fila dupla. A Prefeitura é logo na esquina. Bom, mas esse negócio  de “mobilidade urbana” é outra história. Ou outro tormento urbano. Mas nada isso impede que você  seja um passeante (‘fláneur”) pelo centro de Natal nesta manhã de sábado, mesmo que todas as calçadas estejam ocupadas por camelôs ou coisas que tais. Vale o sacrifício, porque lá adiante você entrará no Sebo Vermelho com uma pauta variada de boas conversas.

E hoje é um sábado especial na casa de Abimael Silva, ali, onde outrora, foi a Casa da Música, de Gumercindo Saraiva. Os discos, as bolachas longueplei, os instrumentos (Gumercindo também era músico, violinista) deram lugar aos livros desarrumados de Abimael. Desarrumados mais preciosos. No meio deles, algumas raridades que somente ele sabe onde encontrar. Hoje, por exemplo, estará lançando uma edição fac-similar do ensaio do escritor, historiador e  pesquisador Raimundo Nonato da Silva, Em casa está batendo no mato está calado. É uma pesquisa sobre o pilão que foi publicado na revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, em 1961. Esta edição tem orelhas assinadas pelo próprio Abimael, sebista e editor, como ele gosta de ser chamado. Livreiro, não.

Abrindo  a conversa, Abimael escreveu: “O pilão está em todas as partes, principalmente nas Américas. Assim como a rede de dormir, os tamboretes ou um banco, a vassoura, a panela, o pote de beber água e  esteira, o pilão sempre esteve presente  na casa do sertanejo, do homem do campo”

O livro traz uma apreciação crítica de Manoel Rodrigues de Melo, etnógrafo e escritor, outro grande estudioso das coisas do Sertão, contida num artigo publicado num dos jornais daqui com o título de “A propósito de pilão”, onde cita, Salviano Gurgel, dos mais ilustres frequentadores do Cova da Onça, outro peagadê em Sertão. O poeta Jorge Fernandes também é lembrado por conta de  um poema que fala de como pilar milho para fazer a canjica e a pamonha de São João.

Em sua caçada ao pilão Raimundo Nonato percorre  as veredas da cultura popular, passando por Cascudo, Gilberto Freyre e Manoel Rodrigues de Melo. Cita versos de cantadores, recorre ao cancioneiro, aos brinquedos infantis, faz parelha com a tradição oral, cita um bocado de gente: Antidio Azevedo, Veríssimo de Melo, Othoniel Meneses, Rômulo Wanderley, Celso Silveira, Leandro Gomes de Barros, desembargador Silvino Bezerra. No rol, destaque para Leandro Gomes de Barros, paraibano de Pombal dos maiores poetas populares do Brasil, um dos inspiradores  de Ariano Suassuna.  Carlos Drummond de Andrade batizou-o como “o rei da poesia popular do Brasil”. Raimundo Nonato transcreve de Leandro Gomes de Barros um rol de compras, escrito em versos, que a sua mulher lhe passou no dia fazer feira:

“Quando for leve a vasilha/ e traga banha com cheiro,/ sim, eu já estava esquecida/ de lã para travesseiro,/ e encomende um pilão; / não tem toalha de mão/ é necessário comprar; / nas compras das encomendas / traga dez metros de rendas/ e galão para enfeitar.”

Joaquim
Em todas as esquinas o papo termina no anúncio da aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, aos 59 anos, onze de sobra para permanecer na casa. No papo de ontem do Cova da Onça, que recebia a visita do poeta Volonté, levantava-se a hipótese de que o magistrado negro poderia ingressar na política já agora na campanha presidencial. Impossibilitado de ser candidato,  subiria no palanque de Aécio ou no de Eduardo Campos. No dia de Dilma, quase impossível. O Mensalão não permitiria.

Leio a coluna de Eliane Cantanhede, da Folha de S. Paulo, de ontem, que começa assim:

– A passagem do primeiro negro a ocupar e a presidir o Supremo Tribunal Federal foi, além de rápida, fulgurante e fora de padrão – como a sua própria biografia.

– Levado pela mão de Lula como um troféu, para ser um negro dócil e agradecido, Joaquim Barbosa rebelou-se contra o papel e desnorteou o PT, o governo e os próprios pares. Mas, na avaliação correta de um juiz atento, Joaquim poderia ter sido simplesmente altivo e muitas vezes foi flagrantemente arrogante.

Chuva 
As chuvas do Agreste diminuíram outra vez. A maior de ontem na região foi em João Câmara, 21 milímetros. Na faixa litorânea apenas neblinas, o mesmo cenário do Seridó. As chuvas mais fortes foram no Oeste: Assu, 33, Ipanguaçu, 31, Severiano Melo, 21, Rodolfo Fernandes, 17, Carnaubais e Jucurutu, 11, São Rafael e Paraú, 10,

Pibinho 
A agropecuária mais uma vez evitou que o PIB (o pibinho) broxasse de vez. Está nas manchetes: “Economia perde força, consumo das famílias recua e PIB cresce, 0,2% no 1º tri”. Os dados são de uma pesquisa do IBGE. A notícia destaca:

– A agropecuária, que vem de bons resultados,  manteve a tendência e subiu 3,6% na comparação com o último trimestre do ano passado. A indústria foi o grande destaque negativo, com queda de 0,8%.

Livro 
Quer passar o fim de semana encantado ou encantada? Procure ler Vila Soledade, o livro de Maria Crinaura Dantas Cavalcanti, professora, assistente social, escritora. Escritora com E grande. Em 82 páginas, que deveriam ser 100, 150, 200, ela cuida de contar para o leitor encantado as memórias de sua infância em Macaíba. Eis uma viagem mágica contada por quem sabe contar, criar, recriar, escrever poeticamente.

“Tantos anos se passaram e tudo é tão real, tão palpável, tão presente, que sinto perfumes, que vislumbro formas, que ouço sons (…)  Tenho em mim a magia da infância e o poder transformador da inocência, num jogo constante de faz de conta.”

E Maria Crinaura vai escrevendo para os filhos, para os netos, o bisneto e  todos os leitores encantados.

O livro foi lançado semana passada em Natal, edição da Editora Jovens Escribas. Bonita a capa, a partir de uma tela de Flávio Freitas retratando o elegante solar  de Macaíba. O projeto gráfico é de  Danilo Medeiros.

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