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Mártires e santos de nossos tempos

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Padre João Medeiros Filho

Emocionante a cerimônia de canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu. A Igreja saberá ser grata a tantos que contribuíram para esse momento solene e de grande significado para o catolicismo no Brasil. Primeiramente, não se deve esquecer Monsenhor Paulo Herôncio de Melo, devoto dos mártires, relatando o massacre, em seu livro Os holandeses no Rio Grande do Norte. Escrito em 1937, em preparação ao tricentenário do martírio das vítimas, sacrificadas por amor a Cristo, durante a celebração eucarística, nas capelas de Cunhaú e Uruaçu, em 1645. Fundamental foi o contributo de Monsenhor Francisco de Assis Pereira, postulador da causa, dos arcebispos Nivaldo Monte, Alair Vilar Fernandes de Melo, Heitor de Araújo Sales, Matias Patrício de Macedo. Um reconhecimento ao Cardeal Cláudio Hummes, que cuidou desse assunto, junto à Cúria Romana, articulando-se pessoalmente com o próprio Papa Francisco. Hoje jubilosa, a Arquidiocese de Natal, dirigida por Dom Jaime Vieira Rocha, pode colher as glórias e contar com trinta intercessores no Céu.

Trata-se de acontecimento ímpar, de grande importância histórica, religiosa e eclesial. A Igreja Potiguar espera também ansiosa a beatificação de Padre João Maria Cavalcanti de Brito – apóstolo da caridade evangélica – antes que sua lembrança seja tangida pelos ventos e areias do tempo e soterrada na poeira da memória do Povo de Deus. Dom Matias, procedeu à reabertura do processo de beatificação desse zeloso sacerdote, assim como do Cônego Luiz Gonzaga Monte. Ambos encheram de graça divina o coração desta cidade. O primeiro com o amor e a bondade, o segundo com a sabedoria e a ciência, voltado para a Luz verdadeira, (“versus ad Lucem”). “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8, 12). Inegavelmente, há outros santos presentes na alma de nossa gente. O Papa Francisco está simplificando cada vez mais os processos de beatificação e canonização. Oxalá volte-se aos primórdios do catolicismo, quando os fiéis aclamavam, dentro das igrejas, seus heróis e protetores. Se perguntarmos aos fiéis quais santos escolheriam, muitos nominariam os aqui citados e acrescentariam tantas almas generosas, plenas de graça, que cultivaram em nossa terra a beleza e a riqueza do Evangelho. Entre os leigos, cabe lembrar Otto de Brito Guerra, cristão fervoroso, apaixonado por Cristo e sua Igreja, cuja lucidez e conhecimento marcaram decisões do Concílio Vaticano II. Faz parte de uma legião de eleitos de Deus. “Somos contemporâneos de íntimos de Cristo, que convive conosco na pessoa deles”, dissera Alexis Carrel.

Tivemos a oportunidade de visitar em Baependi (MG) o túmulo da Bem-aventurada Nhá Chica, leiga, analfabeta e antiga escrava. O bispo de Campanha (MG) escrevendo a respeito daquela beata, expressou: “Devemos ressaltar a santidade de nossos irmãos, que viveram o Evangelho com as dificuldades e atribulações de nossos tempos”. Em Mariana, rezamos diante da sepultura de Dom Luciano Mendes de Almeida. Hoje, olhando o Brasil à deriva, contaminado pela irresponsabilidade, corrupção e ausência de ética, patriotismo e altruísmo, sente-se falta dele. Felizmente, seu processo de beatificação está em fase bem adiantada. Era jesuíta, mestre em teologia e doutor em filosofia, tocado e iluminado pela doçura e sensibilidade do Evangelho. Capaz de perder um ônibus ou avião para atender um pobre ou sofrido, que encontrava nas salas de embarque. Sua presença discreta era aguardada com ansiedade por todos, pois um homem de Deus estava chegando. Santos nos fazem esperar, pois não é a qualquer hora que os encontramos. Com ele convivemos, quando hóspede dos jesuítas. Era de um despojamento e capacidade de servir inefáveis. Filho do conde pontifício Cândido Mendes de Almeida (honraria concedida pela Santa Sé) nunca usou o título herdado nem se serviu da prerrogativa. Relutou em aceitar a nomeação para o episcopado.

Dentre os escolhidos de Deus, sábios, poetas e sonhadores, deve-se incluir Dom Nivaldo Monte, pastor da ternura e da esperança. O fogo do amor de Deus parecia nele utopia, mas era a Chama Divina crepitando em seu coração para nos mostrar a face da Misericórdia de Cristo. Saudades dele, “semeador da alegria”, diante de tantos desenganos, decepções e frustrações, neste Brasil tão amado e espoliado, atualmente pobre de líderes e profetas!

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